02 junho 2008

Vamos procurar meios criativos de protestar

Por Natália Oliveira.


Maio de 68. Em Paris, barricadas simbolizam transformações históricas.

Me disseram que, há mais ou menos um ano, a polícia militar foi acionada durante a eleição para o grêmio estudantil da Escola Sizenando Silveira. Como já faz todo esse tempo, ainda não procurei saber dos alunos o real motivo da intervenção policial dentro do ambiente escolar. Assistindo ao vídeo que encontrei postado no Youtube por Eduardo Augusto em 24 de abril de 2007, reconheci nele o pátio, as paredes, a porta de entrada para a secretaria e alguns alunos do Sizenando. Não há dúvidas: policiais dentro das instalações do colégio tentam imobilizar uma estudante.

Segundo o que a descrição do vídeo informa, trata-se da líder de uma das chapas concorrentes ao grêmio. Ainda de acordo com a informação, a polícia teria sido chamada por um professor que não obtivera para a chapa dele o apoio da maioria dos alunos. Se este foi ou não o verdadeiro motivo do embate entre estudantes e polícia dentro de uma das maiores escolas da rede estadual de Pernambuco, isso eu ainda não descobri. Mas a imagem desse momento por si só incomoda.



Incomoda porque não é raro confrontos do tipo acontecerem por aí. Primeiro os jovens provocam (não digo que foi o caso), quase sempre na legítima intenção de verem atendida alguma reivindicação. Depois a polícia revida, geralmente abusando do poder e inclusive com resquícios de violência. Se for de interesse público, entra em ação os veículos da mídia, utilizando-se de termos como “baderna” e demais sinônimos. Foi o caso das manifestações de estudantes contra o aumento do valor das passagens de ônibus no início de 2006.

Pausa para a historinha. Na ocasião desses protestos contra o aumento das passagens, um amigo foi aleatoriamente detido e figurou como “vândalo” em matérias de telejornais e capa de jornais pernambucanos. No ato da detenção, sofreu violência física da parte da policia e, com medo de sofrer represália, não procurou fazer exame de corpo delito no Instituo Médico Legal. Meses depois ainda respondia processo judicial acusado de ter danificado um suposto óculos de sol de um dos guardas, no valor de R$ 500 (?). Sem ninguém nunca ter visto o tal óculos, nem intacto nem quebrado (apereceu um depois, mas quem garante?), muito menos nota fical que comprovasse a compra e o preço, o meu amigo resolveu pagar a quantia e dar por encerrado o assunto (e as ameaças que vinha sofrendo).

Lembro agora da mensagem de apoio enviada na época ao meu amigo pelo jornalista Ivan Moraes, do Centro Cultural Luiz Freire, organização não-governamental atuante na preservação dos direitos humanos: “vamos procurar meios criativos de protestar”. É onde eu queria chegar. Não nego que protestos juvenis são históricos (no mês passado, o mais famoso deles, o Maio de 68, completou 40 anos) e sei bem que a juventude é inquieta por natureza. Mas a dica do Ivan — procurar meios criativos de protestar — parece mesmo ser uma ótima alternativa. Que tal o fazermos aqui mesmo, neste blog? É possível? O que você acha? Pelo menos assim não causa nenhum hematoma! ;-)

........................................................................................................... Natália Oliveira é estudante do 6º período de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco.

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